O nome pelagianismo tem sua origem a partir de um monge britânico que se engajou num debate ardente com Agostinho
na igreja primitiva. Presumivelmente nascido na Irlanda, Pelágio
tornou-se monge e eunuco. Movido em sua alma, ele chamava a igreja para
uma perseguição vigorosa da virtude e até mesmo a perfeição moral.
Passou muitos anos em Roma onde Coelestius e Juliano de Eclanum, um bispo que se tornara viúvo ainda jovem, se juntaram a ele no seu conflito com Agostinho. Dos três, Juliano era o mais culto. Também era o mais agressivo na controvérsia, embora tenha sido menos agitador do que Coelestius.
Adolph Harnack diz que Pelágio foi "levado
à ira por uma cristandade inerte, que se desculpava alegando
fragilidade da carne e a impossibilidade do cumprimento dos mandamentos
opressivos de Deus". De acordo com Harnack, Pelágio "pregava
que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder
de fazer o bem se assim desejasse e que a fraqueza da carne era
meramente um pretexto".
O
princípio controlador do pensamento de Pelágio era a convicção de que
Deus nunca ordena o que é impossível para o homem realizar. Para
Pelágio, esse não era um princípio teológico abstrato mas um assunto que
acarretava conseqüências práticas urgentes para a vida cristã. Ele se
levantou inicialmente contra Agostinho por causa de um oração que
Agostinho havia escrito: "Concede o que tu ordenaste, e ordena o que tu desejas".
Pelágio não discordava da última frase dessa oração. Na verdade,
é virtualmente supérfula. Deus tem o direito de ordenar tudo o que
deseja. Esta, claramente, é uma prerrogariva divina. A suposição,
naturalmente, é de que o que Deus deseja das suas criaturas nunca era
frívolo ou mal. Essa parte da oração de Agostinho não indica que Deus
precisa da permissão humana para legislar seus mandamentos, mas
refletia, em seu lugar, a postura de humilde submissão de Agostinho
quanto ao dereito divino de lei.
Pelágio exasperou-se com a primeira parte da oração de Agostinho: "Concede o que tu ordenaste..." O
que Agostinho estava pedindo que Deus concedesse? Não poderia ser sua
permissão, porque a criatura nunca precisa pedir permissão para fazer o
que havia sido ordenado. Na verdade, ele precisaria de permissão para
não fazê-lo. Agostinho, obviamente, estava pedindo outra coisa, algum
tipo de dom para atender ao comando. Pelágio acertadamente supôs que
Agostinho estava orando pelo dom da graça divina, que viria na forma de
algum tipo de assistência.
Pelágio
levantou a seguinte questão: A assistência da graça é necessária para o
ser humano obedecer aos comandos de Deus? Ou esses comandos podem ser
obedecidos sem essa assistência? Para Pelágio, a ordem de obedecer
implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas a lei
moral de Deus mas também aos comandos inerentes ao evanelho. Se Deus
ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de
crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se
arrependam, els devem ter a habilidade de se inclinarem para obedecerem
ao comando. A obediência não precisa, de forma alguma, ser "concedida".
A
questão entre Pelágio e Agostinho era clara. Não estava ofuscada por
argumentos teológicos intrincados, especialmente no começo. "Nunca
houve, talvez, uma crise de igual importância na história da igreja na
qual os oponentes tenham expressado os princípios em debate tão clara e
abstratamente" - diz Harnack. "Somente a disputa Ariana antes do Concílio de Nicéia pode ser comparada a ela..."
Para
Pelágio, a natureza não requer graça a fim de cumprir suas obrigações. O
livre-arbítrio, adequadamente exercido, produz virtude, que é o bem
supremo e devidamente seguido pela recompensa. Por meio do seu próprio
esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e
na religião.
Dezoito Premissas.
01)
A base do pensamento de Pelágio é a premissa de que os mais altos
atributos de Deus são a bondade e a justiça. Para Pelágio, esses
atributos são a condição sine qua non do caráter divino. Sem os mesmos, Deus não seria Deus. É inconcebível um Deus que carece da perfeição da bondade e da justiça.
02) A
segunda premissa sobre a qual Pelágio elabora é: se Deus é
completamente bom, então tudo o que criou é igualmente bom. Toda a sua
criação é boa, incluindo o homem. "Adão... foi criado por Deus sem
pecado e inteiramente competente para todo o bem, com um espírito
imortal e um corpo mortal", observa Philip Schaff, resumindo a visão de
Pelágio. "Ele (Adão) - foi dotado com razão e livre-arbítrio. Com sua
razão, ele deveria ter o domínio sobre todas as criaturas irracionais;
com o seu livre-arbítrio, ele deveria servir a Deus. A liberdade é o bem
supremo, a honra e a glória do homem, o bonum naturae, que não
pode ser perdido. É a base única da relação ética do homem com Deus,
que não teria um cilto relutante. Ela consiste... essencialmente no liberum arbitrium, ou na possibilitas boni et mali; liberdade de escolha e na habilidade obsolutamente semelhante para o bem ou mal a cada momento"
Pelágio
arraigou sua visão da natureza humana e do livre-arbítrio na sua
doutrina da criação. O livre-arbítrio consiste essencialmente na
habilidade de se escolher entre o bem e o mal. Essa habilidade ou
possibilidade é a própria essência do livre-arbítrio, de acordo com
Pelágio. Essa habilidade é dada ao homem por Deus na criação, e é um
aspecto essencial da natureza constituinte do homem.
03)
A terceira premissa de Pelágio é que a natureza foi criada não apenas
boa mas incontestavelmente boa. Isso é verade "porque as coisas da
natureza persistente desde o início da existência (substância) até o seu
fim". Schaff diz de Pelágio:
Ele
vê a liberdade na sua forma apenas, e em seu primeiro estágio, e lá ele
a fixa e a deixa, no equilíbrio perpétuo entre o bem e o mal, pronta
para se decider por qualquer um a qualquer momento. Ela não tem passado
ou futuro; absolutamente independente de tudo, seja interior ou
exterior; um vácuo que pode se fazer pleno e , então, tornar-se um vácuo
novamente; uma tábula rasa, sobre a qual o homem pode escrever tudo o
que lhe agra; uma escolha impaciente, a qual, depois de cada decisão,
reverte-se à indecisão e oscilação. A vontade humana é como se fosse o
eterno Hércules na encruzilhada, que dá o primeiro passo para a direita e
o segundo para a esquerda e sempre volta à primeira posição.
Se
a vontade do homem é uma tábula rasa perpétua, então quando uma pessoa
peca, a natureza da vontade não passa por uma mudança e nem por uma
deforma~ção. Não há uma corrupção inerente no homem. Não há
predisposição ou inclinação para o pecado que é, em si mesma, um
resultado do pecado. Cada ato de pecado flui de um novo começo, um bloco
limpo de papel que não é inscrito a priori com alguma predileção.
04) A
quarta premissa de Pelágio é que a natureza humana, como tal, é
inalteravelmente boa. Isto é, a essência constituinte do homem permanece
boa. A natureza não pode ser alterada na sua substância; só pode ser
modificada acidentalmente. O termo acidentalmente aqui não
significa que algo acontentece sem intenção como um resultado do
infortúnio. Ele refere-se à distinçaõ de Aristóteles entre a substância
de um objeto e seus accidens. Accidens refere-se ao
que é exterior a alguma coisa, as qualidades perceptíveis, qualidades
que estão na periferia e não são essencias ao ser desse algo. O
comportamento de alguém pode ser mudado quando ele comete atos
pecaminosos, mas essas ações não mudam a natureza desse alguém.
05) A
quinta premissa de Pelágio, que se segue a partir das quatro primeiras,
é que o mal ao pecado nunca pode transformar-se em natureza. Ele define
o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proibe, do qual somos
livres para nos abstermos e, assim podemos sempre evitá-lo pelo
exercício adequado da nossa vontade. O pecado é sempre um ato e nunca
uma natureza. Caso contrário, Pelágio insiste, Deus seria o autor do
mal. Os atos pecaminosos nunca podem causar uma natureza pecaminosa, e o
mal também não pode ser herdado. Se pudesse, então a bondade e a
justiça de Deus estariam destruídas.
06)
Na sexta premissa, Pelágio exolica que o pecado existe como o resultado
das armadilhas de Satanás e da concupiscência sensual. Essas tentações
ao pecado podem ser superadas pelo exercício da virtude. Nem a lascívia
ao a concupiscência surgem da essência do homem mas é "extrínsica" a
ela. Essa concupiscência não é, em si mesma má, porque até mesmo Cristo
estava sujeito a ela. Isso dá origem a formulação história com relaão à
concupiscência: ela é do pecado e inclina ao pecado mas não é, em si
mesma, pecado.
07) A sétima premissa
- conclui que sempre permanece a possibilidade e, na verdade, a
realidade dos homens sem pecado. O homem pode ser perfeito e alguns têm
sido. Essa tese rejeita categoricamente qualquer doutrina do pecado
original, isto é, que os homens têm a natureza corrupta como resultado
da queda de Adão. Isso conduz às teses nas quais Pelágio descreve a
condição de Adão e de sua progenitura.
08) A oitava premissa - é
que Adão foi criado com livre-arbítrio e uma santidade natural
indubitável. Essa santidade natural compreendia a liberdade da sua
vontade e da sua razão. Uma vez que essas faculdades eram dons dados por
Deus na criação, podiam ser consideradas dons da graça. Não foram
adquiridas por Adão, mas eram inerentes na sua criação.
09) A nona premissa -
é que Adão pecou por vontade própria. Ele não foi coagido por Deus ou
por qualquer outra criatura a cometer o primeiro ato de pecado. Esse
pecado não resultou na corrupção da sua natureza. Nem causou a morte
natural porque Adão foi criado mortal. O pecado de Adão resultou, sim,
em "morte espiritual", que não era a perdad da habilidade moral ou uma corrupção inerente, mas a condenação da alma por causa do pecado.
10) A décima premissa
- é que a progenitura de Adão não herdou a morte natural e nem a morte
espiritual. Sua descendência morreu porque também era mortal. Se seus
descendentes experimentaram a morte espiritual, isso se deu porque, de
forma semelhante, também pecaram. Eles não experimentaram a morte
espiritual por causa de Adão.
11) A décima primeira premissa
- afirma que nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transfimitos a
sua descendência. Pelágio considerava a doutrina do pecado transmitido (tradux peccati) - e a do pecado original (peccatum orignis)
como uma doutrina blasfema arraigada no maniqueísmo. Pelágio insistia
que seria injustiça de Deus transmitir ou imputar o pecado de um homem a
outros. Deus não introduziria novas criaturas a um mundo onerado com o
peso de um pecado que não era delas. O pecado original envolveria uma
mudança na natureza constituinte do homem de boa pra má. O homem se
tornaria naturalmente mau. Se o homem fosse mau por natureza, tanto
antes quanto depois do pecado de Adão, então Deus seria novamente
considerado o autor do mal. Se a natureza do homem se tornou pecaminosa
ou má, então estaria também acima da redenção. Se o pecado original
fosse natural, então Cristo teria de possuí-lo e seria incapaz de se
redimir, muito manos a qualquer outra pessoa.
Schaff faz a seguinte observação sobre essa dimensão da antropologia de Pelágio: "Pelágio,
destituído da idéia do todo orgânico da raça ou da natureza humana, via
Adão meramente como um indivíduo isolado; ele não deu a Adão nenhum
lugar representativo, logo seus atos não acarretavam conseqüência além
de si mesmo. Em sua visão, o pecado do primeiro homem consistiu de um
único e isolado ato de desobediência ao comando divino. Juliano o
compara à ofensa insignificante de uma criança que se permite ser
desencaminhada por alguma tentação sensual mas que depois se arrepende
de sua falha... Esse ato de transgressão único e desculpável não gerou
conseqüências à alma e nem ao corpo de Adão, muito menos à sua
posteridade, onde todos se mantém ou caem por si mesmos"
Para
Pelágio, não há conexão entre o pecado de Adão e o nosso. A idéia de
que o pecado poderia ser propagado via geração humana é absurda. "Se seus próprios pecados não prejudicam os pais depois da sua conversão", diz Pelágio, "muito menos os pais podem prejudicar seus filhos".
12) A décima segunda premissa
conclui que todos os homens são criados por Deus na mesma posição que
Adão gozava antes da queda. Há duas diferenças essenciais entre Adão e
sua descendência; mas essas diferenças não são essenciais. A primeira é
que Adão foi criado como um adulto; sua descendência teve de desenvolver
sua habilidade quanto à razão. A segunda diferença é que Adão foi
colocado num jardim paradisíaco ande não prevelacia o costume do mal;
sua descendência nasce em uma sociedade ou ambiente no qual o costume do
mal prevalece. No entanto, as crianças ainda nasce sem pecado.
Por que, então, a universalidade virtual do pecado? Pelágio atribui a imitação e a longa prática do pecado: "Porque
nenhuma outra causa faz com que tenhamos dificuldades de fazer o bem do
que o longo costume dos vícios que nos infectam desde a infância e
gradualmente, através dos anos, nos corrompem e , assim, nos mantém
abrogados e devotados a eles, parecendo, de alguma forma, ter a força da
natureza".
Nessa passagem, Pelágio parece chegar perto de admitir o pecado original. A palavra-chave, no entanto, é parecendo. O pecado, na verdade, não tem "a força da natureza", a despeito da sua presença difundida.
13) - A décima terceira premissa
é que o habito de pecar enfraquece a vontade. Esse enfraquecimento, no
entanto, deve ser entendido no sentido acidental. O costume de pecar
obscurece o nosso pensamento e nos conduz aos maus hábitos. Mas esses
hábitos descrevem uma prática, não algo que realmente "habita a
vontade". A vontade não é enfraquecida; ela não passa por uma mudança
constituinte. Ela ainda retém a postura da indiferença sempre que uma
decisão ética ou moral precisa ser tomada.
14) - A décima quarta premissa - de Pelágio revela o início de um conceito da graça: A graça facilita
a bondade. A graça de Deus faz com que seja mais fácil para nós seros
justos. Ela nos assiste em nossa busca da perfeição. Mas o ponto crucial
de Pelágio é que, embora a graça facilite a justiça, ela não é, de
forma alguma, essencial para que alcancemos essa justiça. O homem pode e
deveria ser bom em a ajuda da graça.
"A
resolução pelagiana do paradoxo da graça foi baseada numa definição de
graça fundamentalmente diferente da definição agostiniana, e foi aí que o
debate apertou", observa Joroslav Pelikan. "Espalhou-se que Pelágio
estava 'contestando a graça de Deus'. Seu tratado sobre a graça dava a
impressão de consentrar-se 'apenas no tópico da faculdade e capacidade
da natureza, enquanto fez com que a graça de Deus consistisse quase que
inteiramente disso'. Nesse livro, parecia que 'com cada argumento
possível, ele defendia a natureza do homem contra a graça de Deus, pela
qual o ímpio é justificado e pela qual nós somos cristãos"
15) - A décima quinta premissa
- declara que a graça fundamental que Deus dá é aquela dada na criação.
Essa graça é tão gloriosa que alguns gentios e judeus têm alcançado a
perfeição.
16) - A décima sexta premissa denota
a graça dada por Deus em sua lei, a graça da instrução e iluminação.
Essa graça nada faz interiormente, mas produz uma definição clara da
natureza da bandade. Nas categorias clássicas da virtude, duas coisas
distintas foram requeridas: o conhecimento do bem e o poder moral para
fazer o bem. Ambos são facilitados pela instrução e ilumimação da lei.
A graça é dada não apenas pela lei, mas também, de acordo com a 17) - décima sétima premissa, por meio de Cristo. Essa graça é também definida como illuminatio et doctrina. A principal obra de Cristo foi nos fornecer em exemplo.
Pelágio escreve, numa carta: "Nós,
os que fomos instruídos pela graça de Cristo e nascidos de novo pra uma
humanidade melhor, que fomos expiados e purificados pelo seu sangue e
incitados a justiça perfeita pelo seu exemplo, devemos ser melhores do que aqueles que existiram antes da lei, e melhores também do que aqueles que estiveram sob a lei"; mas
o argumento total dessa carta, emque o tópico é simplesmente o
conhecimento da lei como meio poara a promoção da virtude, e também a
declaração de que Deus abre os nossos olhos e revela o futuro "quando nos ilumina com o dom multiforme e inefável da graça celestial", prova que para ele... a "assistência de Deus" - consiste, no final, apenas em instrução.
A
doutrina da graça de Pelágio é meramente o outro lado da sua doutrina
do pecado. Por todo o seu pensamento, permanece a afirmação fundamental
da inconversibilidade da natureza humana. Tendo sido criado boa, ela
sempre permanece boa.
18) - A décima oitava premissa
é que a graça de Deus, é compatível com sua justiça. A graça não
fornece benefício adicional a natureza humana, mas é dada por Deus de
acordo com o mérito. Em última análise, a graça é merecida.
Podemos resumir os dezoito pontos do pensamento pelagiano como se segue:
01. Os mais altos atributos de Deus são sua retidão e justiça.
02. Tudo o que Deus criou é bom.
03. Como alogo criado, a natureza não pode ser mudada na sua essência.
04. A natureza humana é inateravelmente boa.
05. O mal é um ato que nós podemos evitar.
06. O pecado vem via armadilhas satânicas e concupiscência sensual.
07. Pode haver homens sem pecado.
08. Adão foi criado com livre-arbítrio e santidade natural.
09. Adão pecou por livre vontade.
10. A descendência de Adão não herdou dele a morte natural.
11. Nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos.
12. Todos os homens são criados como Adão era antes da queda.
13. O hábito de pecar enfraquece a vontade.
14. A graça de Deus facilita a bondade mas não é necessária para se alcançá-la.
15. A graça da criação produz homens perfeitos.
16. A graça da Lei de Deus ilumina e instrui.
17. Cristo trabalha peincipalmente pelo seu exemplo.
18. A graça é dada de acordo com a justiça e mérito.
O Curso da Controvérsia.
A
controvérsia pelagiana surgiu por volta de 411 ou 412 em Cartago.
Coelestius, discípulo de Pelágio, tentava ser nomeado presbítero em
Cartago. Paulinius o denunciou com a acusação de que ele ensinava que o
batismo de unfantes não objetivava a purificação do pecado. Harnack
lista os itens da denúncia de Paulinius: Pelágio ensinava "que Adão foi
feito mortal e teria morrido se tivesse ou não pecado - que o pecado de
Adão só trouxe prejuízo a ele mesmo e não a raça humana - infantes,
quando nascem, estão no estado em Adão estava antes do seu erro -que a
raça humana não morre por causa da morte de Adão e do seu erro e nem
ressuscitará em virtude da ressurreição de Cristo - tanto a lei quanto o
Evangelho admitem os homens no reino dos céus - mesmo antes do advento
de nosso Senhor, houve homem impecáveis, isto é, homens sem pecado - que
o homem pode estar sem pecado e pode facilmente manter os comandos
deivinos se assim desejar".
O Sínodo de
Cartago excomungou Coelestius. Ele, então, retirou-se para Éfeso onde
conseguiu tornar-se presbítero. Enquanto isso, Pelágio desejando evitar
qualquer grande controvérsia, havia viajado pra a Palestina. Antes
disso, havia visitado Hippo, mas Agostinho estava fora e assim, não se
encontraram. De Jerusalém, Pelágio escreveu uma carta lisonjeira a
Agostinho. Este respondeu com uma carta cortês mas cautelosa. Agostinho
ainda estava se recuperando da pressão da controvérsia donastia e sabia
pouco sobre a controvérsia que estava se formando em Cartago com
Coelestius. Agostinho recebeu notícias de Jerusalém de que o ensino de
Pelágio estava causando um tumulto por lá.
Orósio,
um amigo e discípulo de Agostinho, solicitou uma sindicância contra
Pelágio em 415, mas Pelágio foi exonerado. Em dezembro desse ano, um
sínodo palestino denunciou alguns escritos de Pelágio. Quando o sínodo
exigiu que ele renunciasse ao seu ensino de que o homem pode estar sem
pecado sem a ajuda da graça, Pelágio capitulou. Ele disse, "eu os anatemizo como insensatos, não como heréticos, visto não ser caso de dogma". Ele repudiou o ensino de Coelestius dizendo: "Mas
as coisas que declarei não sendo minhas, eu, de acordo com a opinião da
santa igreja, reprovo, pronunciando um anátema a todo aquele que se
opuser".
Como resultado, Pelágio foi pronuciado ortodoxo. Reinhold Seeberg chama a resposta de Pelágio de "mentira covarde".
Isso deixou Pelágio com a difícil tarefa de recuperar a sua
credibilidade diante de sus próprios defensores. Ele escreveu quatro
livros, incluindo De natura e De líbero arbitrio para elucidar suas opiniões.
A
igreja da África do Norte não estava satisfeita com os resultados do
sínodo. Jerônimo o chamou de "sínodo miserável" e Agostinho disse, "não foi a heresia que foi absolvida lá, mas o homem que a negou".
Dois sínodos norte-africanos aconteceram em 416, e ambos condenaram o
pelagianismo. Uma carta dos precedimentos foi enviada ao papa Inocência,
e esta foi seguida por outra carta de cinco bispos norte-africanos,
incluindo Agostinho. Pelágio reagiu com uma carta sua. O papa Inocência
se agradou em ser consultado e expressou sua concordância total com a
condenação de Pelágio e Coelestius: "Declaramos, em virtude da nossa
autoridade Apostólica, que Pelágio e Coelestius estão excluídos da
comunhão da Igreja até que se lebertem das armadilhas de Satanás".
No
ano seguinte (417), o papa Inocência morreu e foi sucedido pelo papa
Zózimo. Pelágio enviou uma confissão de fé bem-composta a Roma,
argumentando que havia sido falsamente acusaso e deturpado pelos
adversários. Enquanto isso, Coelestius havia ido a Roma e submetido ao
papa uma síntese de submissão. O biógrafo de Agostinho, Peter Brown,
escreve: "Pelágio apressou-se em obedecer às convocações do Bispo de
Roma; ele havia sido precedido por um bispo Heros e Lázaro, eram
inimigos pessoas de Zózimo... numa sessão forma, Zózimo recusou
pressionar Coelestius e, assim, pôde declarar-se satisfeito. Pelágio
obteve uma saudação ainda mais calorosa em meados de setembro. Zózimo
disse aos africanos..., 'Quão profundamente cada um de nós foi movido!
Dificilmente alguém presente poderia reter as lágrimas ao pensamento
dessas pessoas de fé genuína terem sido difamadas".
O
julgamento de Zózimo não encerrou o assunto. A igreja norte-africana
convocou um concílio geral em Cartago em 418 ao qual compareceram mais
de duzentos bispos. O concílio lançou vários cânones contra o
pelagianismo, incluindo o seguinte:
"Todo aquele que diz que Adão foi criado mortal e teria, mesmo sem pecado, morrido por necessidade natural, seja anátema...
Os cânones prosseguiram condenando as seguintes doutrinas: "que...
o pecado original ( não é) herdado de Adão; que a graça não ajuda com
relação aos pecados futuros; que a graça consiste apenas em doutrinas e
mandamentos; que a graça apenas faz com que seja mais fácil fazer o bem;
(e) que os santos expressam a quinta súplica da oração do Senhor não
por si mesmos, ou apenas por humildade"
Zózimo,
então, retratou-se quanto a sua posição anterior e publicou uma
epístola requerendo que todos os bispos subscrevessem os cânones desse
conselho. Dezoito bispos, incluindo Juliano de Eclanum, recusaram-se.
Historiadores uniformemente consideram Juliano como o mais capaz e
astuto defensor da teologia pelagiana. Ele forçou sua causa com cartas
ao papa e com uma crítica mordaz às visões de Agostinho. Quando
Banifácio secedeu Zózimo, ele persuadiu Agostinho a refutar Juliano, e
esse trabalho o ocupou até a sua morte. Dezessete dos dezoito bispos que
resistiram à epístola papal, retrataram-se subsequentemente. Apenas
Juliano persistiu. Depois de ser desposado do seu cargo, refugiou-se,
juntamente com Coelestius, em Constantinopla, onde em 429 recebeu as
boas vindas do patriarca Nestor. Pouco se sabe da vida subseqüente de
Pelágio e Coelestious. A aliança de Juliano e Nestor não o ajudou porque
o póropio Nestor foi mais tarde condenado por causa da heresia que
levava seu nome.
O terceiro conselho ecumênico
em Éfeso (431 d.C), realizado um ano após a morte de Agostinho, conenou
o pelagianismo. Schaff faz a seguinte observação sobre o sistema de
pensamento pelagiano:
"Se a natureza humana não é corrupta, e a vonta de natural é competente para todo o bem, não precisamos de um Redentor
para criar em nós uma nova bondade e uma nova vida, mas apenas de
alguém que nos melhore e enobreça; e a salvação é, essencialmente, obra
do homem. O sistema pelagiano realmente não tem lugar para as idéias de
redenção, expiação, regeneração e nova criação. Ele as substitui pelos
nossos próprios esforços de aperfeiçoar nosso poderes naturais e a mera
adição da graça de Deus como suporte e ajuda valiosa. Foi somente por
uma feliz inconsistência que Pelágio e seus adeptos tradicionalmente
permanecem nas doutrinas da igreja da Trindade e da pessoa de Cristo.
Logicamente, seu sistema condizia a uma Cristologia racionalista".
Extraido: josemarreforma
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