domingo, 26 de agosto de 2012

Capitulo 4- Nacidos Escravos - Martinho Lutero

 Comentário de Lutero sobre o estudo  de Erasmo acerca de textos que  negam o " O Livre-arbítrio"


Argumento 6: Provérbios 16.1: "O  coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor".


Você pretende que essa declaração também faça alusão apenas aos acontecimentos comuns da vida. E uma vez mais retruco que mesmo que você estivesse com a razão, isso tornaria ainda mais difícil para nós podermos decidir, por nós mesmos, nosso destino espiritual. E o fato que tudo quanto acontecerá no futuro está decidido por Deus, deveria produzir dentro em nós o temor do Senhor.

   Você vincula essa passagem a outros dois trechos extraídos do livro de Provérbios 16.4: "O Senhor fez todas as cousas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade". Você faz bem ao salientar que tais palavras significam que Deus nunca criou qualquer criatura má. Bravo! Eu nunca disse que Ele fez tal coisa!


    Provérbios 21.1:"Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina". Você comenta que a palavra "inclina" não significa "compele". E também, diz que o rei inclina-se para o mal pela permissão divina, a qual deixa o rei dar vazão às suas paixões. Porém, não importa se você entende isso como sendo a permissão de Deus, ou a inclinação efetuada por Ele; continua sendo verdade que nada acontece fora da vontade e da operação de Deus. O texto refere-se apenas um homem - o rei. O que é verdade acerca do rei, é verdade acerca de todos os demais homens.


Argumento 7: João 15.5: "Eu sou a videira. vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito frutos; porque sem mim nada podeis fazer"


Este foi o texto acerca do qual eu disse que ninguém seria capaz de fugir, porém você se aproveita da palavra "nada", para destruir seu significado. Você declara que "nada" significa nada "perfeitamente", a fim de que o texto sagrado diga: "Porque sem mim nada podeis fazer perfeitamente". A questão, porém, não é se esse texto pode significar isso, mas se ele realmente significa tal coisa. de acordo com a sua explicação, sem Cristo podemos fazer "um pouco, mesmo que imperfeitamente".

 Desse modo, suponho que quando João 1.3 diz "Sem ele nada do que foi feito se fez", isto significa: "Sem Ele, foi feito um pouco, mesmo que imperfeitamente". Quanta ignorância! É extremamente perigoso manusear assim as escrituras. Não é essa a maneira de chegar à consciência dos homens. Fique, portanto, claro que, nesse trecho, "nada" significa "nada".
  Sob o domínio de Satanás, a vontade do homem nem mais é livre, nem tem domínio, própio; antes, é escrava do pecado e de Satanás, só podendo desejar o que seu príncipe lhe determina. Você ignora o que se lê em seguida nesse trecho: "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam" (Jo15.6). O homem, fora de Jesus Cristo, é totalmente inaceitável diante de Deus, e seu destino é ser lançado no fogo eterno.
  Não posso compreender por que você também cita 1 Coríntios 13.2 em apoio à sua posição. "Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda ciência; ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei". Se alguém está destituído do amor é um dom da graça. A questão, enfim, resume-se no seguinte: "nada" significa, e nada é capaz de alterar isso! À parte da graça, o homem nada pode fazer. O "Livre-arbítrio" nada pode fazer e nada é. 


Argumento 8: A cooperação do Homem com deus não comprova o "Livre-Arbítrio".


Você se utiliza de um bom número de ilustrações que descrevem a cooperação do homem com as operações divinas. por exemplo: "O agricultor faz a colheita, mas é deus que a dá". É óbvio que tenho plena consciência da cooperação do homem com Deus, mas isso nada prova a respeito do "Livre-arbítrio". Deus é onipotente. Ele exerce total controle sobre tudo quanto Ele mesmo criou. E isso inclui os ímpios, os quais, à semelhança daqueles a quem Deus justificou e transportou para o seu reino, cooperam com Deus neste mundo. Todos o homens precisam seguir e obedecer aquilo que Deus tenciona que eles façam.

    O homem em nada contribuiu para a sua própria criação. E, uma  vez criado, o homem não faz qualquer contribuição para permanecer dentro da criação de Deus. Tanto a sua criação como a sua contínua existência são inteira responsabilidade do soberano poder e bondade de Deus, que nos criou e nos preserva em qualquer ajuda nossa.
    Antes de ser renovado, para fazer parte da nova criação do reino do Espírito, o homem em nada contribui para preparar-se para essa nova criação e reino. Por semelhante modo, quanto ele é recriado, em coisa alguma contribui para ser conservado nesse reino. Somente o Espírito de Deus tanto nos regenera quanto nos preserva, sem qualquer ajuda de nossa parte. É como Tiago diz: "Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas"(Tg 1.18). Tiago está falando a respeito da nova criação. Não obstante, deus não nos regenera sem que tenhamos consciência do que está sucedendo, porque Ele nos recria e preserva precisamente com esse propósito: que venhamos a cooperar com Ele.
     E o que é atribuído ao "Livre-arbítrio" em tudo isso? Que resta para o "livre-arbítrio"? Nada! Absolutamente nada!


Conclusão

Nesta controvérsia, não quero gerar mais calor do que luz. Porém, se cheguei a argumentar demasiadamente forte, reconheço a minha falta; se é que houve falta. Mas, não! tenho a certeza de que o meu testemunho é levado ao mundo em defesa da causa de Deus. Que Deus confirme este testemunho no Último Dia! Quem poderia sentir-se mais feliz do que eu - aprovado pelo testemunho de outros, de haver defendido a causa da verdade, sem preguiça, nem de modo enganoso, mas com vigor suficiente e de sobra!
   Se pareci por demais áspero contra você. Erasmo, peço-lhe que me perdoe. Não agi assim movido por má vontade, mas a minha única preocupação era que, devido à importância do seu nome, você estivesse danificando a causa de Cristo. E quem  pode governar sempre a sua pena, especialmente na ocasião de demonstrar zelo? Você mesmo, freqüentemente, lança dardos inflamados contra mim. Mas essas coisas não pesam realmente no debate, e nós, que participamos dele, devemos perdoarmos mutuamente por causa dessas coisas; somos apenas homens, e nada existe em nós que não faça parte das características da humanidade. Que o Senhor, a quem pertence esta causa, abra os seus olhos e o ajude a glorificá-Lo. Amén, 


Extraído do Livro: Nascidos Escravos, Martinho Lutero, Ed. Fiel , pg. 94, 95, 96 e 97.


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